segunda-feira, 14 de outubro de 2013

* “Cinquenta tons de cinza”. Pornografia disfarçada de “erotismo”? Estudo mostra que abuso sexual e emocional dominam a trama

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Um estudo publicado na revista Journal of Women’s Health dos Estados Unidos assinala que o abuso sexual e emocional das mulheres dominam a trama do best-seller “Cinquenta tons de cinza” (50 shades of Grey), um livro pornográfico publicado em 2011 e que vendeu mais de 70 milhões de exemplares.

Esta é a conclusão a que chegou a professora Ana Bonomi, da Universidade estatal de Ohio, quem com suas colaboradoras do departamento de Psicologia pesquisaram sobre o romance de E.L. James enquanto a sua protagonista, “Anastasia”, termina sofrendo danos como resultado de suas experiências sexuais, entre as quais estão várias aberrações como o sadomasoquismo.

“Embora a violência cometida pelos parceiros afete 25 por cento das mulheres com prejuízo para sua saúde, as condições sociais atuais -incluída a normalização do abuso na cultura popular através de romances, filmes e músicas- criam o contexto que sustenta tal violência”, indica o estudo.
A pesquisa descreve como “romântica” e “erótica” a relação do multimilionário Christian Grey, de 28 anos de idade, e a estudante universitária Anastasia Steele, de 22 anos.
Conforme assinala a agência EFE, Bonomi e suas colaboradoras, Lauren E. Altenburger e Nicole L. Walton, leram a novela e escreveram resumos dos capítulos para identificar os temas principais.
Para seu estudo usaram como definição de violência cometida por um parceiro íntimo a dos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, que inclui o abuso emocional mediante a intimidação e as ameaças, o isolamento, a vigilância e a humilhação.

Na área da violência sexual a definição governamental inclui os atos e contatos forçados contra a vontade da pessoa, incluídos o uso de álcool e drogas e a intimidação.
“Este livro perpetua os padrões de abuso perigosos e, no entanto, se apresenta como uma história romântica e erótica para as mulheres”, indicou Bonomi. “O conteúdo erótico poderia ter sido conseguido sem o tema do abuso”, acrescentou.

Alejandro Bermúdez, diretor do Grupo ACI dedicou um dos seus “Ponto de Vista”, podcasts diários sobre algum tema, a comentar sobre este livro e disse que “não podemos tirar nada de bom”.
“Se achamos que a intimidade (entre o casal) vai melhorar quando se introduzem perversões, então estamos ante uma má interpretação do que é o matrimônio”


Quanto ao êxito da história do livro, Bermúdez disse que se explica porque “as mulheres tendem mais à imaginação e por isso alguns escrevem pornografia para elas. A palavra escrita ou falada tem mais efeito nas mulheres que nos homens”.
“Aqueles que pretendam justificar a sua leitura, que não mintam. Que digam o que acontece na realidade: ‘leio este livro porque quero ler pornografia’ (…) Não chamemos bem ao mal nem mal ao bem”, assegurou.
Fonte: ACI

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Ciencia e fé em Harmonia.




Robin Smith, da NeoStem, e monsenhor Tomasz Trafny: Vaticano e cientistas, juntos pelas células-tronco
O monsenhor Tomasz Trafny (ao centro), a dra. Robin Smith e o dr. Max Gomez apresentam ao papa Bento XVI o livro "The healing cell", em junho de 2012. (Foto: Divulgação/NeoStem, Inc.) O monsenhor Tomasz Trafny (ao centro), a dra. Robin Smith e o dr. Max Gomez apresentam ao papa Bento XVI o livro “The healing cell”, em junho de 2012. (Foto: Divulgação/NeoStem, Inc.)

 Acreditem ou não, passou completamente batido por mim o quinto aniversário do Tubo de Ensaio, comemorado no início de setembro. E olhem que sou bom com datas! Em minha defesa, posso dizer que o “jubileu de madeira” do Tubo se deu exatamente enquanto eu estava na Inglaterra. A minha intenção para o aniversário era publicar um material especial: esta entrevista que está abaixo. A dra. Robin Smith, CEO da NeoStem, empresa do ramo de terapia celular, e o monsenhor Tomasz Trafny, chefe do departamento de ciência e fé do Vaticano, conversaram comigo, por telefone, da sede da NeoStem em Nova York, algumas semanas atrás. A empresa e o Vaticano estão juntos desde maio de 2010, em uma parceria assinada entre a Stem for Life Foundation (o braço caritativo da NeoStem) e o STOQ Internacional, projeto que começou com várias universidades católicas colaborando na pesquisa sobre ciência e fé, e que depois foi “encampado” pelo Vaticano por meio do Pontifício Conselho para a Cultura. A parceria tem o objetivo de promover a pesquisa com células-tronco adultas, em consonância com os valores de respeito à vida humana desde a concepção tão caros à Igreja Católica. Além do impulso à pesquisa, a parceria já rendeu um livro e dois congressos realizados no Vaticano. Este é um exemplo acabado de cooperação entre ciência e religião, e, permitam-me dizer, uma bela resposta aos que acusam a Igreja Católica de ser insensível ao sofrimento de doentes cuja esperança está nas terapias celulares. Confiram a íntegra da nossa conversa; uma versão mais curta foi publicada no caderno Mundo, da Gazeta do Povo de hoje:


Como se produziu uma parceria como esta, que muitos veem como incomum?

Mons. Trafny: Normalmente os departamentos do Vaticano não estabelecem parcerias com companhias privadas. Mas queríamos explorar algumas questões específicas, como o potencial das células-tronco adultas, o que exigia uma colaboração mais próxima não só com quem tivesse expertise no tema, mas que também pudesse ajudar com recursos. Então, em vez de fazer isso nós mesmos, pedimos conselho a pessoas que estão na linha de frente da pesquisa e das descobertas nesse ramo. O motivo pelo qual começamos a trabalhar com a NeoStem é o fato de que buscávamos não apenas um parceiro qualquer, mas um parceiro que cumprisse alguns requisitos que tínhamos. Você sabe que temos algumas exigências de nível ético; buscávamos parceiros que compartilhassem da nossa visão, não apenas do ponto de vista científico, mas principalmente do ponto de vista moral. Em primeiro lugar, eles têm uma plataforma ética muito clara: nunca fizeram pesquisa com embriões, e nem querem fazê-lo. Em segundo lugar, é muito importante o fato de eles compartilharem conosco o interesse em um tema muito específico que estamos explorando: o potencial impacto cultural da pesquisa com células-tronco na medicina. É muito difícil encontrar universidades ou instituições que vão além da pesquisa técnica e estejam interessadas nas implicações culturais de seu trabalho. Por muito tempo buscamos quem o fizesse, e encontramos isso na NeoStem. Eles estão muito bem qualificados como pesquisadores, compartilham nosso interesse cultural e têm princípios éticos claros.

Robin Smith: Quando as pessoas falam de células-tronco, frequentemente há confusão. A maioria pensa de imediato nas células embrionárias porque, durante boa parte dos anos 90, a imprensa priorizou a controvérsia criada pelo debate sobre a pesquisa com embriões. Como essa é a única impressão que boa parte do público tem sobre células-tronco, muitos não sabem que as células-tronco adultas são algo diferente, são células retiradas do nosso próprio corpo com nosso consentimento, ou seja, não há implicações éticas associadas ao seu uso. Então, essa parceria entre a Fundação Stem for Life e a STOQ Internacional (ambas entidades sem fins lucrativos), a NeoStem, que é líder no mercado emergente de terapias celulares, e o Pontifício Conselho para a Cultura é única, e a primeira desse gênero. Temos uma tremenda oportunidade de conscientizar uma audiência muito grande sobre a pesquisa científica que vem sendo feita com células-tronco adultas, em que pé estamos atualmente em relação a isso, e quão importantes as terapias celulares em geral serão no futuro. Essa parceria ajuda a espalhar a mensagem de que há uma mudança em curso na medicina, na direção de usar células do nosso próprio corpo para desenvolver terapias que tratem doenças crônicas.

Hoje, quão conscientes os cientistas estão a respeito das questões éticas que envolvem a pesquisa com células-tronco embrionárias?
Robin Smith: Há tantos cientistas brilhantes no mundo, mas, como o dr. John Gurdon mencionou na última conferência que tivemos no Vaticano, ele e muitos de seus colegas provavelmente não consideraram algumas das implicações éticas envolvidas na ciência das células-tronco. Os cientistas costumam focar tanto a parte técnica do seu trabalho que não necessariamente consideram outras questões. Por isso é importante alimentar esse tipo de debate. Quando se tem mais informação, é possível tomar decisões mais embasadas. E, independentemente de quais são suas crenças, entender perspectivas diferentes e respeitar essas diferenças ajuda a levar a ciência adiante.

John Gurdon, aliás, ganhou o Nobel de Medicina por sua pesquisa com células-tronco adultas. Considerando que se fala muito mais da pesquisa e do potencial das células embrionárias, vocês se sentiram “justificados” quando o prêmio foi anunciado?

Mons. Trafny: Quando buscávamos palestrantes para nossa conferência, queríamos os melhores conferencistas que podíamos obter. Convidamos o dr. Gurdon para que pudéssemos ouvi-lo sobre seu trabalho e sobre suas conquistas, e não para esfregar nada na cara de ninguém. Ficamos muito felizes por ele ter aceitado e ter vindo para o evento. Não havia nenhuma ideologia ou segundas intenções por trás do convite, apenas queríamos que ele abordasse os temas relativos à sua pesquisa, e reconhecer sua determinação. Por anos, por décadas, ele acabou isolado por seus colegas, as pessoas não acreditavam em sua pesquisa, mas ele foi muito determinado. Diria que ele foi muito resoluto em seguir aquilo em que acreditava, ser fiel à sua pesquisa, e é assim que se consegue resultados. O Nobel que ele ganhou é o melhor sinal da importância de ter uma boa ideia e ser forte o suficiente para persegui-la, tendo dados suficientes para comprová-la. Foi por isso que o convidamos.
Robin Smith, da NeoStem, está empolgada com a parceria com o Vaticano e a possibilidade de fazer seus colegas cientistas refletirem sobre as implicações éticas e culturais de seu trabalho. Robin Smith, da NeoStem, está empolgada com a parceria com o Vaticano e a possibilidade de fazer seus colegas cientistas refletirem sobre as implicações éticas e culturais de seu trabalho. (Foto: Divulgação/NeoStem, Inc.)

O Vaticano e a NeoStem já têm algum tempo de parceria. Ela chegou a mudar as concepções de cientistas do seu convívio que que ainda podem ver “ciência” e “Vaticano” como entidades que não se misturam?

Robin Smith: Essa tem sido uma colaboração maravilhosa. Temos gerado diálogo entre pesquisadores de vários campos de estudo ao redor do mundo. Estamos focados em nossa missão: educar as pessoas sobre os avanços nas pesquisas com células-tronco adultas e ajudar a levantar recursos para financiar testes clínicos. Também estamos trabalhando com o público estudantil, para que as próximas gerações possam entender o poder e o potencial da terapia celular. Nossa parceria fez a discussão avançar – estamos encorajando o diálogo aberto e a colaboração para fazer a tecnologia avançar, tanto por meio do livro The Healing Cell: How the Greatest Revolution in Medical History is Changing Your Life, que o monsenhor Trafny, o dr. Max Gomez e eu escrevemos, quanto por meio de outras iniciativas educacionais.

Como poderíamos resumir, até agora, o que foi conseguido com a pesquisa com células-tronco adultas? Que terapias já estão disponíveis para humanos, e quais podem se tornar realidade num futuro próximo?

Robin Smith: Há 4,7 mil testes clínicos em curso que usam terapias com células-tronco adultas, e percebemos o ânimo entre os colegas à medida que mais e mais dados são publicados em revistas acadêmicas, mostrando o avanço das tecnologias celulares. Acreditamos que, se você olhar para a indústria como um todo, conseguirá ver um grande progresso sendo feito. Por exemplo, na medicina cardiovascular há uma grande empolgação com as possíveis terapias. Há alguns produtos de terapia celular já aprovados em ortopedia, como o Carticel, da Genzyme, para a indústria de cartilagens articulares. Para mim, os dados mostram a animação em torno dos avanços em várias frentes clínicas, e esperamos ver ainda mais disso no futuro.

A pesquisa com embriões pode dar resultados similares no futuro, ou mais cedo ou mais tarde chegará a um beco sem saída?

Mons. Trafny: Não sabemos. É até possível que a pesquisa com células-tronco embrionárias dê resultados, mas a verdadeira questão é se é correto fazer tudo o que seja tecnicamente possível. E estamos fazendo essa pergunta aos cientistas. Claro que muitos não compartilham da sensibilidade moral e ética dos cristãos e dos católicos nesse tema específico, mas de qualquer forma as pessoas deveriam pensar sobre as potenciais consequências de agredir a vida humana. Se não temos nenhum limite, que diferença faz destruir a vida em seu início, ou no meio, ou no fim? Então, há coisas que, de um ponto de vista meramente técnico-científico, são possíveis, como usar embriões em pesquisa, mas queremos que a sociedade pergunte a si mesma se podemos fazer isso, de um ponto de vista moral. Essa é a questão.

Quando falamos de bioética, qual é a sua visão sobre a relação entre ciência e fé? Quais os limites para a ação de igrejas e grupos religiosos na esfera pública? Eles poderiam, por exemplo, pressionar por uma legislação restritiva em relação a práticas como o aborto, a eutanásia ou a pesquisa com embriões?

Mons. Trafny: A sociedade ocidental foi construída sobre a ética cristã, e isso é algo que mesmo não católicos reconhecem. Há um livro maravilhoso de outro prêmio Nobel, Richard Feynman, chamado The meaning of it all, uma coleção de palestras que ele deu na Universidade de Washington. Ele diz que temos de reconhecer que a ética cristã é um dos grandes patrimônios que temos, e que nas sociedades ocidentais é sob a lógica da ética cristã que agimos. Então, se tudo está construído sobre essa base, é natural que os cristãos levantem questões éticas, inclusive em relação a avanços científicos. Não nos esqueçamos de que pessoas como J. Robert Oppenheimer e o próprio Feynman trabalharam no desenvolvimento da bomba atômica e depois perceberam quão nocivo e eticamente questionável era o seu trabalho. Nós deveríamos ter o direito de levantar questões morais e trazê-las para a esfera pública.

Robin Smith: Para a ciência avançar, precisamos respeitar as crenças das pessoas, sejam elas religiosas, éticas ou de alguma outra natureza. É importante considerar as diferentes perspectivas. Mas, no fim, acreditamos que é o potencial de combater o sofrimento e as doenças crônicas que vai convencer as pessoas e nos ajudar a levar adiante a pesquisa com células-tronco. E, embora essa seja uma parceria com a Igreja Católica, esse potencial deveria ser compreendido por todos, independentemente de filiação religiosa. Eu mesmo sou judia, mas me concentro no que podemos fazer para melhorar a humanidade e reduzir o sofrimento causado pela doença.

Como essa parceria afetou a sua visão pessoal sobre o modo como a Igreja Católica vê a ciência?

Robin Smith: É incrível ver como o Vaticano e o Pontifício Conselho para a Cultura têm sido tão abertos a ajudar as pessoas a entender a ciência, o valor de apoiar uma ciência ética, e o impacto cultural que as ciências terão no futuro. Para mim, tem sido um aprendizado em múltiplos níveis, especialmente em relação à capacidade que a Igreja Católica tem para influenciar a percepção das pessoas. Também aprendi muito sobre a importância da parceria com vários cientistas em todo o mundo para ajudá-los a compreender o valor de uma ciência feita eticamente, o impacto cultural dos avanços que vemos hoje, e o poder desses avanços para o futuro.
O monsenhor Tomasz Trafny defende o direito dos cristãos de levar à esfera pública questionamentos éticos sobre práticas científicas. O monsenhor Tomasz Trafny defende o direito dos cristãos de levar à esfera pública questionamentos éticos sobre práticas científicas. (Foto: Claudio Martinez)

A última conferência sobre o tema no Vaticano não incluiu nenhum encontro com o papa Francisco, e também não houve nenhuma mensagem por parte dele aos participantes do encontro, ao contrário do que Bento XVI havia feito na primeira conferência. Vocês já tiveram a chance de encontrar o pontífice e conversar com ele sobre esses temas?

Mons. Trafny: Como você sabe, quando realizamos a conferência o papa Francisco tinha acabado de ser eleito, e seria muito difícil reorganizar a agenda dele e nossa. Mas o cardeal Gianfranco Ravasi [presidente do Pontifício Conselho para a Cultura] prometeu manter o papa informado sobre todos os desdobramentos. Estamos preparando um documento pós-conferência para levar ao Santo Padre, e obviamente queremos encontrá-lo e ouvir suas palavras e seu conselho sobre como deveríamos agir e sobre o que ele tem em mente em relação ao que há de mais importante para fazermos. Sabemos que ele é bem aberto e esperamos estar com ele em breve não só para apresentar o que fizemos, mas também o que pretendemos fazer.

Suponho que as expectativas são altas, quando se fala do papa Francisco e de bioética…
Mons. Trafny: (risos) Quando estamos falando de um papa, não é tanto sobre ter expectativas, mas sobre seguir seu ensinamento e prestar atenção a suas declarações sobre o valor da vida humana e sobre a situação dramática daqueles que são afetados por diversas formas de sofrimento. Todos sabemos que ele tem uma sensibilidade especial em relação aos que sofrem. Desse ponto de vista, acho que o papa vai não apenas apoiar nossa iniciativa, mas também dará ótimos conselhos e apontar direções concretas para tomarmos.

Em junho de 2012 vocês encontraram o papa Bento XVI. Como descreveriam o interesse do papa emérito pela ciência?

Mons. Trafny: O papa Bento é um grande teólogo, e ele precisou lidar por anos com essas questões relativas a pesquisa com células-tronco embrionárias e adultas quando foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Então, creio que para ele era natural apoiar a pesquisa com células-tronco adultas e nossa iniciativa porque ele estava muito consciente das implicações morais e éticas da pesquisa com embriões. Para ele, era fácil entender e se envolver com a questão. Como você sabe, o papa Francisco, por outro lado, vem de um ambiente mais pastoral, então levará um tempo para que ele se inteire das questões mais específicas, às vezes acadêmicas, mas que também têm um profundo impacto pastoral, moral e social.
Quais são as próximas etapas dessa parceria? Há a possibilidade de incluir outros grupos religiosos que também se interessam pela pesquisa com células-tronco adultas, ou estabelecer novas iniciativas?

Robin Smith: Certamente! Essa parceria é um grande modelo sobre o qual podemos construir ainda mais, com outros grupos, para ajudar a espalhar nossa mensagem. Como disse antes, estamos trabalhando em uma iniciativa global com o objetivo de fomentar a educação e as terapias celulares com a pesquisa com células-tronco adultas.

Mons. Trafny: Claro que queremos agir globalmente, e precisamos começar de algum lugar. O passo importante é reunir pessoas, e fazer com que nossos padres e bispos entendam o potencial da medicina regenerativa e da pesquisa com células-tronco. A conferência de abril serviu para isso; identificamos pessoas e pedimos que elas colaborassem conosco nisso. Agora, o próximo passo é chegar aos estudantes. Estamos organizando eventos, incluindo programas de “estudantes-embaixadores” e convidando alunos de várias universidades para participar das conferências. Estamos pensando em como atrair mais pessoas desse nível que desejem se envolver com nosso trabalho, então seguimos convidando universidades e pedindo que elas enviem alunos para fazer parte disso, de modo que tenhamos um bom padrão de ensino para os jovens. A partir disso, gostaríamos de expandir nossa atuação pública.

Robin Smith: Estamos conversando com educadores e universidades em todo o mundo para criar uma rede que inclua de cientistas a líderes religiosos, homens de negócios, ministros da Saúde e políticos. Queremos estabelecer um ponto focal para uma rede mundial de colaboradores. Começamos a fazer isso com nossa primeira conferência, em novembro de 2011, e expandimos o trabalho em abril deste ano, com a segunda conferência. Atraímos muitos cientistas, jornalistas de ponta como Meredith Vieira e Bill Hemmer, bem como políticos e desenvolvedores de políticas públicas, que vieram e discutiram por três dias sobre todas as diferentes perspectivas e os avanços científicos nessa área. Agora, essas pessoas estão ajudando a ampliar nossa rede e ela seguirá crescendo com cada atividade que organizarmos. Por isso publicamos The healing cell, com um prefácio do papa Bento XVI. Estamos mostrando ao mundo como a medicina do futuro começa hoje.
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Entrevista: doutor em Bioética fala dos dilemas da reprodução assistida


Na Gazeta do Povo deste sábado foi publicada um trecho da entrevista que fiz com o doutor em Bioética Mario Antonio Sanches, um dos palestrantes do Seminário Arquidiocesano de Valorização e Promoção da Vida, que ocorre neste domingo, na PUCPR. Confiram abaixo a íntegra do texto:
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Professor Mario Antônio Sanches e seu novo livro, "Reprodução Assistida e Bioética- Metaparentalidade" (foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo Professor Mario Antônio Sanches e seu novo livro, “Reprodução Assistida e Bioética- Metaparentalidade” (foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo


Dilemas éticos da reprodução assistida
Doutor em Bioética lança livro sobre as consequências da fertilização artificial na experiência da paternidade

As mudanças na experiência da paternidade causadas pelas técnicas de reprodução assistida são o foco do último livro do professor Mario Antônio Sanches, teólogo, doutor em Bioética, e coordenador do mestrado em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Sanches adiantou à Gazeta do Povo um pouco do que dirá na palestra de lançamento da obra “Reprodução Assistida e Bioética – Metaparentalidade” que ocorre neste domingo, às 8h, durante Seminário Arquidiocesano de Valorização e Promoção da Vida, na PUCPR.

O que é “metaparentalidade” ?
É um neologismo que mostra como a parentalidade, que é o ser pai e mãe naturalmente, é transformada na reprodução assistida. A parentalidade natural é um tanto aleatória e começa na intimidade do casal. Na reprodução assistida ela ocorre no consultório médico, no laboratório e vira assunto de profissionais. Não envolve apenas o casal, agora entra o psicólogo, o juiz, o advogado, o embriólogo, o farmacêutico. O problema é que em meio a tudo isso, ocorrem alguns atropelos, porque os casais que buscam essa alternativa nem sempre tomam a decisão de forma totalmente livre e consciente do processo.

Que tipo de pressão há sobre quem busca essa alternativa ?
Às vezes o casal nem quer filhos tanto assim, e é a família que insiste para que tenham. Outras vezes um cônjuge está disposto a fazer tudo e pagar qualquer preço, mas o outro prefere definir limites. Mas há também uma enorme influência econômica que vê esses casais apenas como clientes em potencial.

Como julgar eticamente essa nova realidade ?
Acho que a ética da reprodução assistida deve partir do princípio de que o pacote de técnicas que estão disponíveis não devem atropelar o meu projeto de vida. Se não a gente inverte a ordem das coisas. As pessoas acabam desenhando um projeto de vida a partir daquilo que a técnica oferece. Você não faz uma cirurgia cardíaca só porque está disponível, por exemplo. A técnica é um apoio, não pode ser o ponto de partida.

Há abusos nessa área ?
No campo da reprodução assistida há muita gente lucrando. Claro que há clínicas sérias, que pedem acompanhamento psicológico antes da tomada de decisão sobre o tratamento, mas há outras que iniciam o tratamento no dia seguinte ao pedido, mesmo que o casal não conheça todas as consequências do processo. Um exemplo é a possibilidade de sobra de embriões fertilizados, que ficarão no laboratório. E se o casal alegar motivos de consciência para não aceitar essa possibilidade ? Eles precisam saber desse risco. É aí que você percebe que a economia está atropelando os projetos de vida das pessoas.
Eu fiz uma pesquisa na Espanha e lá há um relatório da Sociedade Espanhola de Fertilidade no qual é mostrado que a cada bebê que nasce por reprodução assistida são fertilizados 14 embriões, em média. Será que os casais que buscam essa alternativa sabem o que ocorre com os outros ?

No ano passado ficou famoso o caso de uma menina brasileira que foi selecionada geneticamente para ser compatível com a irmã, que sofria de uma doença rara e precisava de células saudáveis que viriam do bebê. A Bioética tem refletido sobre casos como esse ?
É o tipo de caso no qual nós temos muitas questões complexas. A questão moral mais grave é que se produzem vários embriões. Então é feito um PGD (Diagnóstico Genético Pré-Implantacional) para identificar qual é o embrião compatível com aquela criança que eu quero salvar, e os que não são compatíveis são descartados. O problema começa por aí.
Depois nós já entramos em outro problema, e isso vai além da reflexão cristã. A filosofia kantiana já diz que cada ser humano deve ser visto como um fim em si mesmo. É a questão da autonomia, ninguém pode ser manipulado. Então, se eu produzo um embrião para tirar células e salvar terceiros, esse que está nascendo está sendo instrumentalizado. E aí ocorre aquele problema mostrado em alguns filmes no qual chega um ponto em que a criança gerada diz “não quero mais”.
Imagine o que é para uma criança saber que a mãe só o planejou para que fosse um instrumento para salvar o outro filho. Percebe quantos problemas psicológicos surgem desse processo ? Chega um ponto em que a criança não quer ser mais instrumentalizada. A criança acaba correndo um enorme risco de não ser amada por si mesma.
A gente compreende a dor dos pais que tem um bebê de 3 ou 4 anos e vai morrer. No desespero cria-se uma terapia que, na verdade, gera outro problema. É a pressa, o desepero. Claro que esses casais não podem ser condenados, mas percebe-se que se cometeu um exagero.

O senhor também é teólogo e o evento do qual participará pretende apresentar o que a Igreja tem a dizer sobre o tema. A posição católica sobre aborto e células-tronco embrionárias é bem conhecida, mas questão de reprodução assistida me parece menos comentada. O que a Igreja diz a respeito ?
Temos dois documentos da Igreja que abordaram a problemática. Um deles é chamado Donum Vitae, que é de 1987, e outro de 2008 que é o Dignitas Personae.
A Igreja defende a perfeita união entre o ato conjugal e a reprodução, chamados de ato unitivo e ato procriativo. Essa é o contexto de reprodução ideal para Igreja Católica, portanto ela não aconselha nenhuma reprodução que quebre essa unidade. E a Igreja entende que a reprodução assistida quebra essa unidade, porque a reprodução não ocorreu pelo ato sexual. Os gametas foram retirados do marido e da mulher e, pela fertilização in vitro, foram fertilizados fora do corpo. Essa prática não é aceita, mesmo que seja homóloga, e que os gametas venham do próprio casal.
Entretanto, os próprios documentos fazem uma gradação, mostram que há problemas mais graves do que outros. O fato da fertilização se dar fora do corpo já não é aceitável, mas o problema é mais grave quando os gametas são de terceiros . Nessa situação a Igreja fala da quebra da unidade genética do casal. Isso ocorre, por exemplo, quando a mulher é fertilizada pelo sêmen que veio de um banco de sêmen, e não do seu cônjuge.
Depois, a Igreja alerta sobre a possibilidade de colocar o embrião em risco de vida. Ela defende a dignidade do embrião humano, e essa dignidade trás uma problemática maior, porque o descarte de embriões é muito próximo da questão moral do aborto.
Outro exemplo é, como citamos, a seleção embrionária, que descarta embriões considerados incompatíveis geneticamente. Então o posicionamento da Igreja vai tendo nuances mais ou menos severos. Como tudo em bioética, a Igreja recomenda que se dê muita atenção às particularidades de cada caso.